quero aprender a sentir saudades
sobre sentir o que imagino ser o luto ou a busca constante pela descoberta
sempre tive uma relação esquisita com a morte. quando criança, sentia medo de ir em velórios, tinha pavor de fantasmas e acreditava seguramente que esse era o lugar mais propício para eles aparecerem. quanto tinha por volta de 12 anos, perdi uma tia-avó muito querida que viveu os últimos momentos de sua vida com a gente. ela morava em outra cidade e veio para a capital conseguir melhores tratamentos médicos. meses depois, ela não resistiu e partiu.
não lembro de tanta coisa desse dia, mas alguns momentos me acompanham até hoje. estava sentada na calçada da casa da minha avó e todos estavam cabisbaixos, falando pouco e em tom pesaroso. percebi que ela era muito querida. ali, sentada no chão, com minha blusa listrada de azul e branco, short jeans e chinelinha no pé comecei a observar o movimento de formigas aparentemente apressadas para chegar em algum lugar. fiquei tão concentrada naquilo que me ausentei do presente por um tempo impreciso. ninguém reparou em mim. todos estavam imersos nesse tipo de pacto silencioso que a morte de alguém que amamos nos causa. despertei quando percebi que chorava. mas o choro não era simplesmente porque minha tia-avó tinha partido, ainda não sabia o que isso significava, ainda não estava sentindo saudades dela, ainda não tinha me dado conta da indefinição do luto e como ele iria se fazer presente na minha vida.